“A pessoa não quer morrer, ela quer acabar com seu sofrimento”, esclareceu a psicanalista Samantha Dubugras Sá, durante uma roda de conversa sobre saúde mental e emocional dos profissionais de imprensa, promovida pela ARI neste sábado (06), em Porto Alegre. O painel, ligado ao departamento Universitário da associação, também teve a presença do jornalista Felipe Laud, da TV Câmara de Porto Alegre, e de Liziane Eberle, porta-voz e voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV).

De acordo com Liziane Eberle, o CVV, atende, atualmente no Brasil, cerca de 10 mil ligações por dia, para quatro mil voluntários. “Por isso a demanda e a fila de espera são altas. Os idosos, por exemplo, são os que mais tiveram dificuldade durante a pandemia, já que não sabiam lidar muito bem com a tecnologia. Eles se comunicam de maneira diferente, comentam a idade e usam termos diferentes durante a conversa. Já os jovens falam muito sobre o medo do futuro e a questão da sexualidade, ou seja, eles querem ser o que realmente são.
Para ser um voluntário, o candidato deve ter idade mínima de 18 anos e possuir quatro horas semanais para se dedicar. O candidato passa por curso prático-teórico durante 15 semanas. Nesse tempo ele vai desenvolver o autoconhecimento. Feito isso, faz um estágio no telefone e, se correr tudo bem, ele passa a ser um voluntário. “Durante esse tempo, o voluntário vai se despir de preconceito. Ele precisa de treino, treino e treino”, enfatizou Laud.
O importante é saber ouvir, despido de preconceito e julgamentos.
Voluntário há cinco anos, o jornalista Felipe Laud, lembrou que “a gente tem que ser mais humano, sem julgamentos e preconceitos, temos que respeitar”. Laud conversa com jovens em comunidades e pondera que é preciso discutir o que é raiva, o que é alegria, o que angústia.
Cerca de dois terços das pessoas que cometem suicídio avisam antes de tomar a atitude. Mesmo de forma lúdica, brincando – elas avisam. Por esse motivo, quando houver alguém precisando de ajuda, temos que acolher e encaminhar para um especialista. De preferência, acompanhar na consulta.
Telefone do CVV: 188
Outra abordagem no painel foi a falta de tempo e a pressão dos editores nas redações. Numa matéria complexa, não há tempo para reflexão. Durante o bate-papo, os jornalistas aproveitaram para contar e compartilhar as suas histórias pessoais, bastidores, curiosidades e cenas emocionantes de suas reportagens.

das suas reportagens no jornal Correio do Povo.
Laud informou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou a cartilha “Prevenção ao Suicídio: um manual para profissionais da mídia”. No material, há dicas do que fazer e do que não fazer durante as coberturas. Link do manual: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/67604/WHO_MNH_MBD_00.2_por.pdf;jsessionid=AD751C77FBB0D30C848E0215F7BA2B6F?sequence=7
Observou-se que no mês de setembro de 2015, chamado de setembro amarelo, justamente no mês da prevenção, o índice de suicídio aumentou. Por isso é preciso falar sobre o assunto em todos os meses, e não só em setembro. Muito importante a ARI estar discutindo esse tema no mês de maio, comentou o jornalista.
Na ocasião, Liziane esclareceu que no seu plantão, que vai das 7h às 11h, os homens são maioria nas ligações. Nesse horário, muitos deles trazem o cybersexo como assunto. Já no turno da tarde, as mulheres ligam mais. Crianças também telefonam e, além disso, infelizmente, ainda há trotes.
O CVV é visto como um serviço de apoio emocional com atendimento 24 horas por dia.
Para o presidente da ARI, José Nunes, o evento foi muito produtivo. “Vamos levar esse conhecimento para os colegas que precisam de apoio. O que a ARI puder fazer, estará à disposição na parceria com o CVV”.
O jornalista e diretor do Departamento Universitário da ARI, Leandro Olegário, lembrou da saúde mental como um tema sensível desde a pandemia. “Felizmente a OMS alterou o status. Vamos poder perceber novamente nossas emoções, relações e autoconhecimento”, disse Olegário.

Saiba mais:
– As pessoas estão mais adoecidas emocionalmente.
– O importante é não dar ênfase ao suicídio, mas reforçar a prevenção.
– As ligações do CVV são feitas de todo o Brasil e são recebidas, também, de todo o país.
– O CVV realiza serviço voluntário de apoio emocional e prevenção do suicídio há 60 anos no Brasil.
– Por trás de cada CVV, há uma mantenedora. Não trabalha com estatística e não possui verba pública.
– No dia 15 de maio, às 14h, o CVV será homenageado com a distinção Honra ao Mérito da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre.
– No dia 27/05/2023 haverá o Chá das Mães. Informações no site do CVV.
– Site Mapa Saúde Mental. Você não está sozinho, procure ajuda! https://mapasaudemental.com.br/.
– Leitura comentada: “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe.
– Para mais informações: site cvv.org.br e telefone 188.
Crédito das fotos: Mariana Czamanski e Thamara Costa Pereira.